Teorias do currículo ( Nice Hornburg e Rubia da Silva)
Entende-se que o currículo está
diretamente relacionado a nós mesmos, a como nos desenvolvemos e ao que nos
tornamos. Também envolve questões de poder, tanto nas relações professor/aluno
e administrador/professor, quanto em todas as relações que permeiam o cotidiano
da escola e fora dela, ou seja, envolve relações de classes sociais (classe
dominante/classe dominada) e questões raciais, étnicas e de gênero, não se
restringindo a uma questão de conteúdos. Assim, o currículo é um importante
integrante do dia-a-dia da escola que exercerá influência direta nos sujeitos
que fazem parte do processo
O conceito de currículo como uma
especificação precisa de objetos, procedimentos e métodos para obtenção de
resultados que podem ser medidos passou a ser aceito pela maioria das escolas,
professores, estudantes e administradores escolares.
No entanto, como esta questão
apresenta grande importância no processo educacional, passou a ser vista como
um campo profissional de estudo e pesquisas, fazendo com que surgissem outras
teorias para questionar o currículo e tentar explicá-lo.
As teorias do currículo
desempenham várias funções e se convertem em mediadores ou em expressões da
mediação entre o pensamento e a ação em educação. Uma primeira consequência
desse enfoque é a de que o professor, tanto como os alunos, é destinatário do
currículo.
Essas teorias se convertem em
referenciais ordenadores das concepções sobre a realidade que abrangem e passam
a ser formas, ainda que indiretas, de abordar os problemas práticos da educação.
Algumas teorias sobre o currículo
apresentam-se como teorias tradicionais, que pretendem ser neutras, científicas
e objetivas, enquanto outras, chamadas teorias críticas e pós-críticas,
argumentam que nenhuma teoria é neutra, científica ou desinteressada, mas que
implica relações de poder e demonstra a preocupação com as conexões entre
saber, identidade e poder.
TEORIAS DO CURRÍCULO
Teoria
Tradicional
A teoria tradicional procura ser
neutra, tendo como principal foco identificar os objetivos da educação
escolarizada, formar o trabalhador especializado ou proporcionar uma educação
geral, acadêmica, à população. Silva (2003) explica que essa teoria teve como
principal representante Bobbit, que escreveu sobre o currículo em um momento no
qual diversas forças políticas, econômicas e culturais procuravam envolver a
educação de massas para garantir que sua ideologia fosse garantida. Sua
proposta era que a escola funcionasse como uma empresa comercial ou industrial.
Segundo Silva (2003, p.23) apud Hornburg e Silva (2007):
[...] de acordo com Bobbit, o sistema educacional
deveria começar por estabelecer de forma precisa quais são seus objetivos.
Esses objetivos, por sua vez deveriam se basear num exame daquelas habilidades
necessárias para exercer com eficiência as ocupações profissionais da vida
adulta.
O modelo que Bobbit propunha era
baseado na teoria de administração econômica de Taylor e tinha como
palavra-chave a eficiência. O currículo era uma questão de organização e
ocorria de forma mecânica e burocrática. A tarefa dos especialistas em
currículo consistia em fazer um levantamento das habilidades, em desenvolver
currículos que permitissem que essas habilidades fossem desenvolvidas e,
finalmente, em planejar e elaborar instrumentos de medição para dizer com
precisão se elas foram aprendidas. Estas ideias influenciaram muito a educação
nos EUA até os anos de 1980 e em muitos países, inclusive no Brasil.
Tyler também determinou como
identificar ou onde encontrar as respostas às perguntas por ele propostas para
elaborar o currículo. Para Tyler, deveriam ser feitos estudos sobre os próprios
aprendizes, sobre a vida contemporânea fora da educação, bem como obter
sugestões dos especialistas das diversas disciplinas. (SILVA, 2003). Mas, para
fazer esse levantamento, as pessoas envolvidas deveriam respeitar a filosofia
social e educacional com a qual a escola estivesse comprometida e a psicologia
da aprendizagem.
Numa linha mais progressista, mas
também tradicional, apresenta-se a teoria de Dewey, na qual aparecia mais a
preocupação com a democracia do que com o funcionamento da economia. (SILVA,
2003). Essa teoria dava, também, importância aos interesses e às experiências
das crianças e jovens. Seu ponto de vista estava mais direcionado à prática de
princípios democráticos, sendo a escola um local para estas vivências. Em sua
teoria, Dewey não demonstrava tanta preocupação com a preparação para a vida
ocupacional adulta. A questão principal das teorias tradicionais pode ser assim
resumida: conteúdos, objetivos e ensino destes conteúdos de forma eficaz para
ter a eficiência nos resultados.
Teoria
Crítica
Em meio aos muitos movimentos
sociais e culturais que caracterizaram os anos de 1960 em todo o mundo,
surgiram as primeiras teorizações questionando o pensamento e a estrutura
educacional tradicionais, em específico, aqui, as concepções sobre o currículo.
As teorias críticas preocuparam-se em desenvolver conceitos que permitissem
compreender, com base em uma análise marxista, o que o currículo faz. No
desenvolvimento desses conceitos, existiu uma ligação entre educação e
ideologia.
A ênfase das teorias críticas
estava no significado subjetivo dado às experiências pedagógicas e curriculares
de cada indivíduo. Isso significava observar as experiências cotidianas sob uma
perspectiva profundamente pessoal e subjetiva, levar em consideração as formas
pelas quais estudantes e docentes desenvolviam, por meio de processos de
negociação, seus próprios significados sobre o conhecimento. Embora tenham
tentado identificar tanto as teorias marxistas como as ligadas à fenomenologia
com o movimento reconceptualista, os pensadores ligados às idéias marxistas não
queriam muito essa identificação em virtude do aspecto estritamente subjetivo
de sua teoria.
Silva (2003) cita um movimento
crítico em relação às teorias de currículo que ocorreu na Inglaterra, com
Michael Young. Essa crítica era baseada na sociologia e passou a ser conhecida
como Nova Sociologia da Educação. Diferentemente das outras teorias que tinham
como base as críticas sobre as teorias tradicionais de educação, esta tinha
como referência a antiga sociologia da educação, que seguia uma tradição de
pesquisa empírica sobre os resultados desiguais produzidos pelo sistema
educacional, preocupada principalmente com o fracasso escolar de crianças das
classes operárias. Porém, essas pesquisas fundamentavam-se nas variáveis de
entrada, classe social, renda e situação familiar, e nas variáveis de saída,
resultado dos testes escolares, sucesso ou fracasso escolar, deixando de
verificar o que acontecia entre esses dois pontos.
São as ações implícitas que
caracterizam o currículo oculto. Estão presentes, mas não estão organizadas ou
planejadas no currículo e tanto podem ser positivas como negativas. Para as
teorias críticas, estas ações geralmente ensinam o conformismo, a obediência e
o individualismo, ou seja, comportamentos que mantêm a ideologia dominante.
Teorias
pós-críticas
É possível analisar as teorias
pós-críticas considerando o currículo multiculturalista, que destaca a
diversidade das formas culturais do mundo contemporâneo. O multiculturalismo,
mesmo sendo considerado estudo da antropologia, revela que nenhuma cultura pode
ser julgada superior a outra. Em relação ao currículo, o multiculturalismo
aparece como movimento contra o currículo universitário tradicional que
privilegiava a cultura branca, masculina, europeia e heterossexual, ou seja, a
cultura do grupo social dominante.
A partir desta análise, houve a
proposição de que o currículo também incluísse aspectos de formas mais
representativas das diversas culturas dominadas. Assim surgiram duas
perspectivas: a liberal ou humanista e a mais crítica.
A linha liberal defende ideias de
tolerância, respeito e convivência harmoniosa entre as culturas, e a visão
crítica pontua que, dessa forma, permaneceriam intactas as relações de poder,
em que a cultura dominante faria o papel de permitir que outras formas
culturais tivessem seu “espaço”. De acordo com Silva (2003, p. 90): “O
multiculturalismo mostra que o gradiente da desigualdade em matéria de educação
e currículo é função de outras dinâmicas, como as de gênero, raça e
sexualidade, por exemplo, que não podem ser reduzidas à dinâmica de classe”.
As desigualdades criadas dentro
do processo escolar não aparecem apenas nas relações de poder entre grupos
dominantes a partir de questões econômicas, mas também nas diferenças raciais,
de sexo e gênero, quando são colocados como dominantes valores, como a
superioridade masculina e a branca.
CONCLUSÃO
Diante do exposto é possível
constatar que nas primeiras teorizações sobre o currículo, este teve papel
puramente burocrático e mecânico, com questões relacionadas a procedimentos,
técnicas, métodos e avaliação, comparando a escola a uma empresa. As teorias
tradicionais se apresentam, assim, como neutras, científicas e desinteressadas,
já que os saberes dominantes representam a existência do que ensinar e as
técnicas existentes, já definidas cientificamente, servem justamente para que o
ensino re realize. Por isso, resta apenas transmitir o conhecimento
inquestionável, de forma bastante organizada, utilizando-se, para tanto, das
técnicas desenvolvidas pela ciência.
As teorias críticas e
pós-críticas não aceitam esses argumentos, apresentando questionamento sobre o
porquê de se trabalhar determinados conhecimentos e não outros, tentando
desvelar a ideologia oculta sob o rótulo da neutralidade científica e
privilegiando outras características, que, segundo elas, deveriam permear as
discussões relacionadas ao currículo escolar. Surgiram para repensar este
papel, que se diz neutro, no currículo tradicional, e questionar a pura
transmissão de conhecimentos elaborados por um determinado grupo. As teorias
críticas, por sua vez, atacaram as perspectivas empíricas sobre o currículo
tradicional.
Compreender as teorias do currículo foi relevante
para entender a história e os interesses que envolvem a construção curricular,
proporcionando um olhar mais crítico nos nossos currículos, o que eles trazem e
fazem e em que precisam mudar.
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 35.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003.
GADOTTI, Moacir. Educação e poder: introdução à pedagogia do conflito. 9. ed. São
Paulo: Cortez, 198
HORNBURG, Nice. SILVA, Rubia da. Teorias sobre currículo: uma análise para
compreensão e mudança. Vol. 3n. 10 - jan.-jun./2007. p. 61-66.Disponível: .
MOREIRA, Antonio Flávio; SILVA, Tomaz Tadeu da.
(orgs.). Trad. Maria Aparecida Baptista. Currículo, cultura e sociedade. 8. ed. São Paulo: Cortez,
2005.
PADILHA, Paulo Roberto. Currículo intertranscultural: novos
itinerários para a educação. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo
Freire, 2004.
SACRISTÁN, J. Gimeno. O currículo: uma reflexão sobre a prática. 3.ed. Porto
Alegre: Artmed, 2000.
SILVA, Tomaz Tadeu da Silva. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do
currículo. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
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